A mentira é como um funil, um funil que estreita os fatos. É como a gordura nas paredes da veia que geram um estreitamento e impede que o sangue circule com fluência. Não existe mentira pequena, toda mentira tem conseqüências. Ainda que percorra um caminho que exceda o nosso campo de visão, depois de feita ela passeia.
É como uma pequena bola de neve solta de um alto pico, que por onde passa adere uma nova camada e cresce, não se pode medir o tamanho da mentira, nem sua intensidade.
Alguém disse que a mentira tem pernas curtas, eu completo dizendo que depois que nasce ela anda sozinha, e a boca é só um meio de transporte. Toda mentira gera uma reação em cadeia e pode mudar completamente o rumo da história de terceiros. Ela impede que as coisas aconteçam de forma natural. Ela desvia o curso dos acontecimentos. A mentira intensifica ou ameniza o peso dos fatos.
Quando a mentira altera números ela pode ganhar uma nova dimensão. Quando ela se restringe apenas aos interessados e só eles conhecem a verdade, se esses partilham do mesmo interesse a mentira pode acabar se tornando uma verdade para todo o resto.
A mentira engana. Se não sabemos que é mentira logo cremos que é verdade. Sendo verdade acreditamos nela. O problema é quando a verdade aparece e já nos firmamos na mentira. Por mais agradável e real que seja a verdadeira verdade vai ser difícil abrir mão da velha concepção, somos inclusos então numa grande confusão.
Porque somos levados por uma mentira acreditando ser verdade? Por várias razões, mas entre várias uma das principais é que é agradável, queremos acreditar. A mentira flui muito melhor quando ela nos satisfaz, quando ela diz aquilo que queremos ouvir, principalmente quando diz respeito a qualquer área que envolva a nossa vaidade ou massageie o nosso ego.
Minha outra resposta para aceitarmos tão bem certas mentiras como verdades é que nós desconhecemos qualquer alternativa aceitável que possa questionar a autenticidade da tal “verdade’.
Minha primeira resposta me leva a outra explicação: Porque acreditamos em certas promessas. Quando não temos a nossa realização suprida seja ela na área que for, isso nos faz ficar com a esperança ativa. E às vezes queremos tanto uma coisa que quando alguém assume o compromisso de nos oferecer aquilo ficamos um pouco mais aliviados, ou melhor, mais esperançosos. Acreditamos em uma possibilidade visível e as vezes palpável, que é melhor que a esperança sem perspectiva de tempo. Nessa hora temos a tendência de relaxar um pouquinho, e quanto mais relaxamos mais fácil fica de sermos conquistados e sermos levados por nossos anseios.
A mentira parte da consciência. Se não há consciência da mentira não se configura como tal. O inocente é incapaz de mentir pois não sabe que mente, se mente o faz como se fosse verdade. Só pode mentir aquele que está consciente, ou seja, aquele que sabe o que faz. Por outro lado se não temos consciência da mentira, a proferimos como se disséssemos a verdade.
Isso explica porque a mentira por vezes ganha vida, quando parte do consciente para o inocente ela se torna uma “verdade” e fica ali camuflada. E é a partir daí que ela ganha a autenticidade que precisa para fazer seu trottoir.